terça-feira, setembro 28, 2004

por joana...poesia interrompida


por não suportar mais a cobardia,
por tanta repugnância que sinto pelos criminosos,
por têr sido criança e sentir que outra não vai crescer,
por sêr pai e sentir todo o amor por meus filhos,

uma vela, uma pena, uma tristeza...

que deus tenha tua alma em descanço
querida menina, que não te deixaram crescer...

ruiluis

sexta-feira, setembro 24, 2004

maria II


(pintura de roberta imperatore "la notte")

as tulipas negras, as rosas brancas
tanto amor da alma transborda
alma nitida e transparente
que naquele jardim habita

na harmonia dos sons
o encanto é repleto de magia
no perfume de todas as palavras
que faz sentir o coração

no encontro da noite
o luar preenche-se de desejo
e o fogo se acende
para uma dança sedutora

amor, quanto demoras
amor, que o coração deseja
tulipas negras, rosas brancas
naquele jardim a florescer

ruiluis

raiz

(pintura de josé malhoa "outono")

chamo-te mãe
chamo-te minha
e quando te cheiro
depois da chuvada
sei que te pertenço
e sinto-me naufragado

mudas teu rosto
nas cores que me visto
chamas o amor
quando tudo acordas
és essência,
fonte de todas as existências

quereria sêr árvore
e sentir-me raiz em ti
só assim,
saberia do meu lugar
e deixaria de me perder
nas ilusões da vida

sim, sêr árvore
para me rodeares
na época da colheita
de meus frutos
e saber que tenho um sentido
e que tudo é útil

ruiluis

terça-feira, setembro 21, 2004

maria

Example

(pintura de abel manta "mulher da nazare")

vivo com esta fome
de devorar o vento
que me trás o teu cheiro
e me faz rodopiar no ar
como uma pena
de uma gaivota
que perdeu o corpo
a quem pertenceu

assim navego
e sou barco à vela
em teu mar alto
aonde sigo as ondas
que se quebram
naquela praia
para naufragar
com tudo que sou

ser teu, como se fosse
uma parte de ti
neste mar
a quem a areia pertence
sim, ser a tua areia
aonde abrandas tuas ondas
estende-te em mim
e molha-me

ruiluis

quinta-feira, setembro 16, 2004

sol de outono

Example


(pintura de vincent van gogh "the olive trees ")
parti com duas luzes que me iluminam
(escuridão que me trespassou a alma e
que sufocou o grito no silêncio...)
e mantive elas sempre acesas na viagem

cheguei à outra margem da vida
(perturbantes sentimentos que te tentam
com sorrisos malicios de falsos sabores...)
e pisei as raizes que sou

era de noite fria e caminhava na rua
(meu canto amaldiçoando a primavera passada
de uma morte lenta e cobarde...)
mas a flôr da amêndoeira continuava a desabrochar

quando acordei de manhã, depois da viagem
(memórias soltei, sei lá porque quiseram voar
todas juntas...mas é melhor que me deixem em paz !!!)
abri as cortinas e ofereci meu corpo, ao sol de outono...

ruiluis

quarta-feira, setembro 15, 2004

noutros tempos


(pintura de claude monet "dusk")
na praia que te pertenceu
escrevi teu nome na areia
como noutros tempos
em que escrevias o meu nome

na cidade que te pertenceu
já não apareces ao virar da esquina
como noutros tempos
aonde nosso encontro nos surpreendia

e lembras-te quando o ceu e as estrelas...
(luas cheias do tamanho do arco iris)
...lembras-te que tudo isto te pertenceu
porque o sol acabou de se pôr agora

e quando chega a noite
quando meu cantar desperta
e me perco...sim, perder !
sei que tudo se passou, tudo se passou...
ruiluis

terça-feira, setembro 14, 2004

vim

zenscho kopp - luz dharmakaya.jpg



(pintura de zenscho kopp "luz dharmakaya")

vim para te ver

uma vez, só mais uma

e antes do meu regresso

teu sorriso levarei



sou como a chuva que cai...

trovoada e relâmpago

é o meu grito e a espada

que quebra o silêncio e mata a saudade



vim para te ver

uma vez mais

pra levar teu ultimo beijo

...pra regar as rosas do teu jardim



assim sigo meu caminho

asas me levam de volta

de onde parti pra te ver

uma vez, só mais uma


ruiluis (agosto 2004)

domingo, setembro 12, 2004

jardim


(pintura de paul klee "tunisian gardens")


Do teu espaço, um jardim,

Sim, como eu desejo...

Fiz-me um louco da noite,

Procuro todas as flores nas madrugadas.


Beijo-te de manhã

E deixo que elas falem por mim

sei que te pertencem, todas elas

e descobri teu espaço para mim.


Agora, nesse espaço,

Faço o jardim em noites sombrias,

Onde ninguem me vê,

E quero-me secreto e audaz.


Vou me entregar novamente,

Assaltar muros e fronteiras

Vou ser viajante outra vez,

Para me perder por ti...


ruiluis (julho 2004)


Para canção:

Do teu espaço, um jardim floresce,
Sim, como desejo... anseio.
Tornei-me louco da noite escura,
Procuro flores nas madrugadas em devaneio.

Beijo-te ao amanhecer,
Deixo que elas falem por mim,
Sei que são tuas, pertencem a ti,
Descobri o teu espaço para mim.

Agora, nesse espaço meu,
Crio o jardim em noites sombrias,
Onde ninguém me vê, lá no céu,
Quero ser secreto, desafiando as vias.

Entrego-me novamente, rendido,
Assalto muros e ultrapasso fronteiras,
Torno-me viajante, a ti comprometido,
Para me perder em tuas quimeras...

Em alemão:

Aus deinem Raum wird ein Garten,
Ja, wie ich es wünsche... sehne mich danach...
Ich werde zum Verrückten der Nacht,
Ich suche alle Blumen in den Morgendämmerungen.

Ich küsse dich am Morgen,
Und lasse sie für mich sprechen,
Ich weiß, dass sie dir gehören, alle sie,
Und ich habe deinen Raum für mich entdeckt.

Nun, in diesem Raum,
Erschaffe ich den Garten in dunklen Nächten,
Wo mich niemand sieht,
Und ich will geheimnisvoll und waghalsig sein.

Ich werde mich wieder hingeben,
Mauern und Grenzen überwinden,
Ich werde wieder ein Reisender sein,
Um mich in dir zu verlieren...

terça-feira, setembro 07, 2004

lisboa

carlos_botelho3g.jpg


( pintura de carlos botelho "lisboa e o tejo, domingo" )



lisboa dos nossos passos


aonde caminhamos juntos nas vielas


e paramos no meio de praças e lugares


para que nossos beijos sejam eternos



lisboa que é tua e minha


aonde tudo nos pertence


como a magia que envolve o nosso amor


e que nos faz colar um ao outro



lisboa à beira-rio que nos encanta


e descobrimos que somos deuses naufragados


rodeados por todos os santos


no escutar de todos os fados



lisboa que não nos deixa partir


e nos agarra para sempre


para sermos amantes sem fim, enfeitiçados


e filhos desta cidade que nos ilumina




ruiluis agosto 2004 (homenagem à minha cidade natal)

noite deserta

(pintura de manuela pinheiro "afecto I")


apago a luz do meu quarto para me deitar
e deixo o luar invadir tudo o que sobra de mim

ele chega pela janela aberta
e será o companheiro da minha noite deserta

as rosas vermelhas expostas no solitário
atiram beijos sem boca para os dar

e fiz a cama como se voltasses esta noite
queimando essencias de lavanda- limão que preferes

iria te abraçar em meus braços atrevidos
e deixar minhas mãos viajar em teu corpo salino

e a lua nos iluminará e escutará nossos gemidos
que se irão emudecer num silêncio de paz

no silencio dos teus lábios adormecidos te beijaria
aonde seguirei teu sonho dourado

mas estendo o lençol e deito-me com o luar
em mais uma noite sem ti, noite deserta


ruiluis (baseado no "fado para esta noite")

domingo, setembro 05, 2004

encontro


(foto by ruiluís)



nosso encontro,

nesta noite madrugadora

aonde o mar nos cala

quando estamos unidos em nós



quanto tempo esperámos

nesta praia desejada, 

nesta água salgada

que molha nossos corpos



sabemos do nosso mistério

segredo mudo deste destino inconvicto

e temos-nos e damos-nos

como almas que se pertencem



és tu, sou eu

nada mais e tudo, 

mais uma vez unidos

nesta praia, neste encontro



ruiluís (junho 2004)

sexta-feira, setembro 03, 2004

frescura matinal / sublime viagem

Sublime viagem de manuela pinheiro.jpg
(pintura de manuela pinheiro "sublime viagem")
 
 
ao teu lado acordo 
por perfumes madrugadores 
que em nossos corpos permanecem
chamando o teu corpo
 
meu rosto desce-o em beijos
entre aromas e essências 
o espirituoso sal do prazer 
que em tua pele resiste
 
minha boca a deseja 
com beijos de lingua matinais 
e refrescam-se os lábios 
para uma viagem sublime 
 
assim me quero em ti 
meu sonho, apetite e desejo 
É a frescura do dia que segue 
quando ao teu lado acordo
 
 
 ruiluis (inspirado na pintura de manuela pinheiro "sublime viagem"-abril 2004)