domingo, novembro 28, 2004

reflexão

os tectos da velha casa abandonada
testemunham as vidas passadas
dos espaços vazios que ficaram

a queixa da solidão que agora habita,
dos tempos que ditaram as sinas incontornaveis
de quem lá viveu, de quem lá morreu...

perto dessa velha casa
recolho das laranjeiras os frutos maduros
de aromas harmonizantes e doces

passo lá todos os dias
aos lamentos da velha casa
na solidão dos tectos mudos,
ao convite feliz das laranjeiras
oferecendo-me frutos de esperança...

ruiluis

sexta-feira, novembro 26, 2004

é tarde

do amor que dei...
só há pouco foi reconhecido
pensei-o um passageiro clandestino
num barco a navegar sem rumo

longa foi a espera
de quem hoje sabe
da magia dos momentos
no abraço do bolero e da bossa nova

do amor que recebi...
guardo em lugar sagrado
aonde o tempo espera
com a paciência das estátuas

escuta, como nos encanta
a musica adormecida
dos pássaros viajantes
das nossas memórias renascidas !

mas é tarde meu amor...
tão tarde, que a manha já raia
depois de faltarmos
ao encontro da noite

ruiluis

quinta-feira, novembro 18, 2004

pétala

vi-te passar por mim
pétala de rosa
redopiavas no ar
em mil e uma volta que davas

um vento desconhecido
soprava-te para longe
sem destino nem fim
livremente ao acaso

vi-te seguir para além
pétala de rosa
num céu de monotonia azul
acompanhando o teu caminho

fiquei quieto,
secou-se a garganta
e a lágrima também...

alexander ibis

sábado, novembro 13, 2004

clareza

(o meu sonho desta noite foi nitido
como os sonhos que tinha, quando criança...)

vi-me num cenário frágil
aonde por inquietação
aconteceu o terramoto da vida que tive
e o chão abriu-se quando acordei...

não consegui localizar a aflição do acordar
mas sinto-me lúcido
como se tivesse desvendado
o mistério profundo dos sentimentos...

hoje, não me importo que tenha vivido
nas mentiras insuportaveis
que me contaste por baixo de um céu azul
ao sopro de um vento indeferente

a força da corrente fez-me erguer de novo
e cerrei meus dedos na direção
que me encaminha
para além da luz que vejo...
(impressionou-me o afogamento das amarguras
no clarear do dia ao abrir os olhos...)

ruiluis

quarta-feira, novembro 10, 2004

o monte

vivo num monte sem caminhos
nesse monte, vejo à noite as luzes da cidade
de dia saiu e visito a cidade
pessoas passam preocupadas
e seguem nas ruas e praças dessa cidade

na cidade existe uma melodia que gosto
a melodia é triste...canto-a !
eu gosto de cantar a musica da cidade
por sêr triste como eu sou...
nem sempre fui triste

hoje, fui a um parque na cidade
cantei sem ninguem me escutar
recordei-me de ti,
mas não gosto de me recordar de ti
no monte aonde vivo também canto

parece que foi ontem que passei contigo neste parque
e no dia seguinte fui viver para o monte sem caminhos
ontem escrevia os poemas no teu corpo
e hoje escrevo-os neste papel

alexander ibis

domingo, novembro 07, 2004

borboleta

(pintura de urte "elfe")

borboleta cravada com alfinetes...

(desde que não pude mais pertencer à tua vida,
o amor é como uma sombra que se perdeu algures...

agora vive no nada sem rumo e direcção

é um sem abrigo que caminha perdido
no temporal das paisagens sem imagem...)

borboleta cravada com alfinetes...


alexander ibis

quarta-feira, novembro 03, 2004

invisivel


(imagem de walter strobl "schattenspiel")

sou invisivel aos olhos de quem passa e não vê...
não existo, mas sou na minha inexistencia algo que ficou...

como o dia chega depois da noite, assim cheguei um dia e fiz-me noite...
a lua não vive e morreu no grito da sombra que a vida tem...

não existo, e por isso, sou invisivel aos olhos de quem passa e não vê...

ruiluis